Não se trata de aprender a jogar futebol, vôlei ou xadrez, tampouco de falar sobre as regras envolvidas em cada modalidade esportiva. As aulas de Educação Física, tão amadas por tantas crianças e adolescentes, são uma boa oportunidade para que a escola e o professor desempenhem um importante papel social. É o que dizem especialistas no assunto.
Katia Costa, assessora pedagógica de Educação Física do Sistema de Ensino Aprende Brasil, atua na formação de professores da rede pública municipal, com ênfase na Educação Física escolar. Ela explica que, mais que a prática esportiva, é na Educação Física que se pode estimular outras habilidades entre os estudantes. “Enquanto estivermos fazendo da escola uma escolinha de futebol, perderemos a oportunidade de apresentar outras vivências para nossas crianças”, afirma. Entre essas vivências estão fatores como a solidariedade, a empatia, o respeito e as questões sociais.
Esse caráter social da Educação Física está devidamente previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que orienta a construção do currículo escolar para escolas públicas e privadas de todo o país. Ela está incluída na área de Linguagens do documento, acompanhada por componentes como as Línguas Portuguesa e Inglesa e pelas Artes. Essa característica se deve ao fato de que, de acordo com a BNCC, o movimento humano tem aspectos culturais. Assim, as práticas corporais são também uma forma de expressão social.
Mas, para que esse potencial seja aproveitado, é preciso que os professores estejam atentos a ele. Para o professor e pedagogo Luis Henrique Martins Vasquinho, autor de materiais didáticos de Educação Física, não se aprofundar nas proposições da BNCC pode causar abordagens inadequadas. “Uma leitura superficial da BNCC pode levar o professor a entender que o aluno vai à escola para aprender a lutar, dançar ou praticar diferentes modalidades esportivas. Precisamos pensar qual aprendizagem do aluno sobre essas modalidades na escola é diferente do que ele vai encontrar em outras instituições”, defende.
O esporte como ferramenta social
Além de ensinar a respeitar regras e trabalhar em grupo, o esporte é reconhecido, já há algum tempo, como uma importante ferramenta de inclusão social. São muitas as histórias de pessoas que viram suas vidas serem transformadas por ele, de atletas profissionais a adeptos amadores que encontraram um propósito na prática esportiva. Essa potencialidade é ainda mais significativa quando o trabalho desenvolvido nas escolas tem foco nas mudanças que o esporte pode promover nas estruturas sociais.
“Eu posso trabalhar com o esporte e, a partir dele, observar a realidade que cerca meus alunos, as situações que eles presenciam em suas comunidades. A partir do esporte, é possível estudar, por exemplo, a violência, e falar sobre ela com as crianças”, detalha Katia. Para a especialista, outros aspectos das relações sociais também podem ser abordados. “Um bom exemplo é a dança. A partir dela podemos debater as relações desiguais às quais meninos e meninas estão submetidos. Por que é mais fácil para as meninas terem uma carreira ligada à dança? Por que existe preconceito quando são meninos dançando? São muitas as possibilidades de melhoria social trazidas pela Educação Física”, finaliza.
Katia Costa e Luis Henrique Martins Vasquinho são os convidados do episódio 46 do podcast PodAprender, produzido pela Editora Aprende Brasil, cujo tema é “A importância e os desafios da Educação Física na escola”. Todos os episódios do PodAprender estão disponíveis gratuitamente no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br), nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
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