Antes de falar sobre a relação entre o esporte e saúde mental e a busca constante de superação por parte dos atletas, é preciso algumas reflexões. Primeiro, é inquestionável o poder da atividade física em melhorar os níveis de bem-estar do ser humano. Embora não seja uma panaceia, inúmeros são os estudos que provam que a atividade física traz benefícios significativos para pessoas de todos os gêneros e idades, de maneira sustentável e contínua.
Em segundo lugar, é importante reconhecer que existem inúmeros profissionais do esporte e da saúde mental com maior expertise para discutir a realidade dos atletas e esportistas. No entanto, o objetivo aqui é explorar o pré e o pós-treino, o momento que antecede a preparação da mochila para a academia e a realidade posterior a um longão, e promover reflexões sobre como diversas teorias de felicidade e bem-estar podem apoiar a rotina de esportistas profissionais e amadores.
Por fim, entendo que muitas pessoas treinam para alcançar alta performance, e aqueles que competem buscam, no final das contas, o pódio ou algum tipo de reconhecimento. Este preâmbulo visa ilustrar a complexidade de definir “um limite” ou combater excessos em um contexto repleto de sonhos, expectativas e desafios pessoais ou coletivos.
O trágico caso do atleta sérvio que faleceu afogado durante o mundial de CrossFit nos EUA, no dia 8 de agosto, serve como exemplo. Este atleta, que já havia feito história com suas performances impressionantes e estava competindo pela quarta vez, não conseguiu terminar a prova com vida. Esse evento ressalta a importância de lembrar que a felicidade não reside no destino final, no pódio ou na medalha de ouro. Esses são apenas marcadores da jornada, e é nela, a cada passo e a cada amanhecer, que se reafirma o propósito e o desejo de fazer mais e melhor.
A ciência da felicidade corrobora essa teoria, como exemplificado pela ginasta brasileira Rebeca Andrade, que fez história nas Olimpíadas de Paris ao conquistar uma medalha de ouro, duas de prata e uma de bronze. Andrade afirmou, um dia antes de disputar a final no solo: “Para falar a verdade, meu foco não é a medalha, e sim fazer boas apresentações, me sentir segura. Pronta eu já sei que estou, mas me sentir firme mesmo. E me divertir, hoje eu estava muito feliz, assim como na classificatória e no individual. Essa sensação que eu quero levar para amanhã. Independentemente de resultado, eu vou estar feliz, porque fiz tudo o que podia.“
Enquanto atletas de alto rendimento assimilam a importância de buscar a excelência, e não a perfeição, muitos esportistas amadores se preocupam em atender expectativas estéticas ou as demandas das redes sociais. Essa preocupação pode desviar a atenção dos reais benefícios da atividade física, que envolvem o bem-estar do corpo, da mente e das emoções, gerando o efeito oposto: mais ansiedade, pressão por resultados incríveis (muitas vezes com uso de produtos ilegais ou de uso restrito) e murchamento psicoemocional.
Simone Biles oferece um exemplo notável de como a virtude da moderação pode ser aplicada ao desistir das Olimpíadas de Tóquio. Quando percebeu que estava ultrapassando seus limites e afetando sua saúde mental, Biles abraçou o autocontrole e a humildade, afastando-se temporariamente do estrelato para priorizar seu bem-estar.
Esse movimento não foi um retrocesso, mas sim um passo necessário para sua recuperação e sucesso futuro. Biles mostrou que, às vezes, o que pode parecer uma pausa ou derrocada pode realmente servir como um impulso para a carreira e para revigorar a saúde mental. Como ela mesma disse: “Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos, e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”.
Como Chief Happiness Officer, entendo que essa lógica pode ser adotada por todos, sejam atletas profissionais ou esportistas amadores, profissionais tradicionais ou empreendedores. A busca incessante pelo sucesso ou pelo alto desempenho pode levar a lesões físicas e psicológicas, prejudicando a autoestima e o senso de bem-estar. A busca incessante pelo primeiro lugar, muitas vezes, coloca o indivíduo em situações que lesionam corpos e mentes, trincam ossos e saúde mental, estiram ligamentos e laços sociais e emocionais que, em muitos casos, não voltam a ser como eram antes. É preciso saber a hora de parar e dizer não, para treinadores, chefes ou para si mesmo. É fundamental rever a meta e estabelecer novas prioridades!
Em uma sociedade marcada pelo excesso e pelo cansaço, é fundamental saber o momento que a vida pede que se reavalie as prioridades. É crucial encontrar um equilíbrio saudável que permita descansar e recuperar, sem perder de vista objetivos, paixões e propósitos.
Na era das máquinas e da inteligência artificial, é preciso lembrar que somos humanos, com limites naturais. Em 2022, Michael Phelps, o nadador com 28 medalhas olímpicas, nos chama atenção para o que realmente importa: “Preferia ter a oportunidade de salvar uma vida do que ganhar uma nova medalha de ouro.”
Aceitar e respeitar os limites individuais é essencial para alcançar uma verdadeira excelência. Somente respeitando esses limites poderemos realizar mais e melhor, de maneira equilibrada e sustentável, lembrando que a perfeição é inalcançável e que a excelência é a capacidade de fazermos o melhor que podemos com os recursos internos e externos que estão à nossa disposição.
Só assim, através do autocuidado e da busca por esse equilíbrio, cada um conseguirá florescer e alcançar o verdadeiro sucesso e a medalha de ouro que realmente faz a diferença: um bem viver.
Por Rodrigo de Aquino.
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